terça-feira, 28 de agosto de 2012

A hipocrisia bateu com a cara no muro.

Reproduzo aqui um texto que encontrei na internet, de autoria do jornalista Eduardo Franco de Almeida (Edu Franco):


"O mensalão não apareceu nas contas dos parlamentares, nas contas dos paraísos fiscais ou nas ditas votações. Mas a farsa montada pela mídia e a unilateralidade do supremo está aparecendo como nunca. Pensando no baixo ibope que esse julgamento está tendo, acho que seria melhor ter mantido o mensalão como boato, pois o julgamento só está servindo para desmenti-lo. É o famoso tiro pela culatra.
A compra de votos no congresso não escandalizou a nossa ilustre burguesia quando FHC dissipou boa parte dos cofres, na época grandes devedores, para aprovar a sua reeleição. O congresso foi comprado em dois dias na cara da nação, liberaram-se verbas indiscriminadamente para quem votasse a favor e até um Ovniporto foi construído em uma pequena cidade. Na época, ninguém se escandalizou com isso. Nem a nossa classe média, nem a TV Globo, nem o Grupo Abril. A hipocrisia tem batido com a cara no muro. Todo ódio é, por princípio, burro."

A indignação seletiva da nossa pobre, hipócrita e manipulada classe média está cada vez mais sem cabimentos. A farsa do Mensalão, que prejudicou o PT e toda a centro-esquerda brasileira, está indo cada vez mais por água abaixo. Uma pena que essa mesma mídia, que armou todo este circo durante anos, jamais admitirá que mentiu e, sobretudo, jamais será responsabilizada por suas invenções.

domingo, 11 de março de 2012

São Paulo Copenhague

Nos últimos anos uma nova moda tem feito a cabeça da classe média pseudo-elitista,  hype e “moderninha” de São Paulo: o uso da bicicleta. Ainda que me pareça bizarro em alguns casos, cada vez mais pessoas estão adotando a “magrela” como meio de transporte, nesta cidade que é cheia de subidas e descidas, que possui 11 milhões de habitantes e uma frota de mais de 7 milhões de veículos.

Cada dia se torna mais comum, em algumas áreas de cidade, deparar-se com a cena de um ciclista pedalando em meio aos carros, entre as faixas, como as motos. O que na verdade é proibido, inclusive para motos. Agora, eu me pergunto: bicicleta como meio de transporte numa cidade como São Paulo? Com motoristas mal-educados? Onde a pressa é a principal característica da população? Com pouquíssima infra-estrutura para ciclistas? Não seria uma tragédia anunciada? Acho que deve-se, portanto, abrir um debate sobre a questão.

Qual o objetivo de se utilizar uma bicicleta no dia-a-dia? Mais uma alternativa limpa para o transporte individual na cidade? Fazer dela o principal meio de locomoção? Fazer das "bikes" - como a classe média americanizada de São Paulo a gosta de chamar - a solução para o nosso transporte? Se este é o objetivo, acho extremamente ingênuo que estes intelectualóides da classe média o defendam. Primeiro porque trocar o carro pela bicicleta é inviável em alguns casos. São Paulo é uma cidade extensa, são 1.522,986 km² de área. Área esta que é extremamente diversa geograficamente. Cheia de altos e baixos, subidas e ladeiras. Subir a Brigadeiro de bicicleta exige um belo esforço. Ou então pedalar pelas ladeiras dos Jardins, Perdizes ou Vila Madalena.

A distância também é um problema. Poucas pessoas tem a sorte de trabalhar próximo ao local onde vivem. Duvido muito que o trabalhador que precisa se deslocar todos os dias do Grajaú para Pirituba esteja disposto a percorrer cerca de 60 km (aproximadamente 30 km na ida e 30 km na volta) pedalando diariamente. Realmente, ele ficaria extremamente saudável, como a maioria dos ciclistas que cultuam o corpo sarado. Mas creio que também ficaria exausto demais para cumprir com suas funções diárias.

Portanto, é preciso que se analise o tipo de pessoas que estão tão engajados na luta pelo uso da bicicleta. Eu faço uma aposta: publicitários, jornalistas, designers, produtores musiciais, programadores da web e outros dedicados a profissões “moderninhas”, hypes, “prafrentex”. Duvido muito que um operário metalúrgico, um pedreiro ou qualquer outro trabalhador que se dedique a atividades braçais esteja disposto a voltar exausto, cansado e suado para a casa montado em uma bicicleta. Aposto com toda a segurança de que ele prefere pegar um trem com ar-condicionado e chegar rápido em casa, sem precisar se esforçar ainda mais para estar em seu lar.

Logo, insisto em que aqueles que defendem a bicicleta são parte da classe média intelectualóide paulistana com complexo de burguesia. E que agora parece estar desenvolvendo a “Síndrome de Copenhague”. Algum “bacana” da classe média resolveu viajar para Copenhague - e não Miami ou Nova York, como a pseudo-elite paulistana adora fazer - e achou “cool” o uso de bicicletas por lá. Só esqueceram de avisar o obtuso (acostumado à megalópoles) que a capital dinamarquesa possui quase doze vezes menos habitantes que São Paulo. Copenhague possui 549.050 habitantes na cidade e, ao todo, 1.199.224 habitantes na área urbana. A subprefeitura da Capela do Socorro, em São Paulo, possui 561.071 habitantes. São 12.021 pessoas a mais do que na capital da Dinamarca inteira. Só a zona sul de São Paulo possui mais que o dobro de toda a população da área urbana de Copenhague, totalizando 2.346.913 habitantes. São condições demográficas totalmente diferentes.

Outra coisa que deve ser levada em consideração: a frota de veículos. E eles são exatamente 7.012.795. Só de carros, temos mais de 5 milhões. Os automóveis, infelizmente, são os principais meios de transporte na capital paulista. Digo infelizmente porque poluem e causam trânsito. Mas isso seria facilmente resolvido com um metrô mais extenso, o que ainda está muito longe de acontecer. E é ele, somente ele, o trem, que pode substituir o carro em São Paulo. Não a bicicleta. Somos como Tóquio, Cidade do México ou Moscou. E não como Copenhague, Amsterdã ou Oslo.

E também temos que pensar na educação dos motoristas. Todos sabem que em São Paulo ela é minúscula e, na maioria das vezes, está ausente nas ruas. Aliás, sejamos justos. Ausente não só nos motoristas. Ausente também nos pedrestes e, inclusive, nos ciclistas. Eu mesmo já presenciei vários deles passando em sinal vermelho com sua “bike”. Talvez eles não saibam que, em Copenhague, a cidade linda, plana e pouco densa das bicicletas, os ciclistas também respeitam os sinais de trânsito. Até com mais cautela do que os motoristas de carros, pois sabem que estão em desvantagem e são mais frágeis. Cautela de um lado (dos ciclistas) e do outro (dos motoristas) também. Educação, bom-senso e consciência. Coisas que faltam - e muito - em São Paulo.

Então acho que antes de colocarmos bicicletas nas ruas (em seu devido lugar, e não no meio dos carros), é necessário educar e conscientizar a população de que existem meios alternativos de transporte nesta cidade já suficientemente caótica. E também é preciso educar os ciclistas, conscientizando-os de que mostrar o dedo do meio para motoristas, arrumar briga no trânsito e depois cair no meio do corredor de ônibus não é algo muito seguro.

E antes de transformar São Paulo nesta “Copenhague Gigante”, é preciso também reduzir o número de carros nas ruas. E para isso, só metrô. Nem todos moram no Paraíso ou Higienópolis e trabalham na Paulista. Tem gente que percorre longas distâncias diariamente e muitas vezes moram e trabalham em lugares onde o metrô não chega (como eu). E não culpo ninguém por não gostar de andar de ônibus. Acho que poucos gostam. Portanto, o carro acaba se tornando a única alternativa. Por isso recomendo que se façam manifestações exigindo das autoridades mais metrô. Ou mais trens de superfície. Ou então, que votem em políticos e partidos diferentes. Pois já vimos que estes que estão no poder não estão muito interessados em transporte ferroviário. Afinal, só inauguram estações em véspera de eleição e constroem 1 km de metrô por ano.

É por essas e outras que meu respeito por esses manifestantes “modernetes” pró-“bike” é muito pequeno. Você os indaga “São Paulo precisa é de mais metrô”, e a resposta vem rapidamente, como se estivesse pronta: “também”. Mas, levando-se em conta a posição social e a classe à qual pertencem estes indivíduos, tenho certeza de que votam nestes mesmos políticos que não constroem metrô. E que nos governam há quase 20 anos. Mas acho que eles não estão muito preocupados. É muito melhor pedalar sozinho em sua bicicleta, com o iPod no ouvido, ao som de indie rock, do que tomar um metrô cheio de trabalhador fedido. Dividir espaço com a “massa”.

Posso estar generalizando? Talvez. Mas não acho isso ruim. Exceções existem, mas atrapalham no entendimento do todo. Generalizo para resumir. Acredito que nas bicicletadas de São Paulo hajam trabalhadores, gente mais simples. Porque não? Eles também tem direito a usar bicicleta. Afinal, essa idéia não é elitista. Nem burguesa. Vide a bicicletada que ocorreu na Cidade do Cabo, na África do Sul. Nela só tinham brancos e loiros. Mas não. Não é um movimento elitista. Quem sabe um pouco de África do Sul entenderá a sutil ironia.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Quando a violência bate à porta

Assistir a um jornal televisivo no Brasil é garantia de se ver muitas tragédias, muitos problemas e de se ter uma pequena amostra grátis do que é o dia-a-dia de milhões de brasileiros vítimas da violência. Porém, através de um aparelho de televisão, a história pode parecer uma. Mas, na vida real, ela é bem diferente. Quando você sente a violência na pele, ocorre uma drástica mudança na sua maneira de enxergar as coisas.

Nos últimos anos, o desenvolvimento e o crescimento do Brasil têm impressionado e empolgado. Não só a brasileiros, mas como também a estrangeiros. Empregos, dinheiro, progresso, um mercado consumidor forte. Esses parecem ser os ingredientes para o verdadeiro “milagre brasileiro”. Milagre que parece ter acontecido inteiramente na chamada “Era Lula”. Mas em minha cabeça, tais ingredientes não são o suficiente para que se faça o bolo chamado “desenvolvimento”. Se economicamente estamos bem, no resto, ainda estamos bem mal.

A distribuição de renda, que tem melhorado nos últimos anos, ainda é, em minha modesta opinião, a principal causa para a violência urbana. E é claro, a mentalidade brasileira - em parte baseada na mentalidade estadunidense -, que valoriza o consumismo e os bens materiais, ajuda a manter este índice de violência elevado. Todos precisam consumir, comprar e ter. E quando parte da sociedade não possui desenvolvimento econômico suficiente para fazer estas três coisas, então surge a violência.

Nos anos 90, principalmente após 1995, nosso país passou por um processo de neoliberalização, que incluiu a privatização da propriedade pública e a entrega de boa parte dos serviços e de empresas nacionais a grandes grupos empresariais. As grandes corporações tornaram-se donas de parte do Brasil e do patriomônio que, por direito e justiça, pertenciam ao povo brasileiro. As consequências disso? Concentração de renda. Enriquecimento dos ricos e empobrecimento dos pobres. Abriu-se um abismo social no Brasil. Abismo este que perdura até hoje.

O abismo social causado pela empreitada neoliberal aumentou a violência, entregou as cidades ao tráfico de drogas e ao crime organizado. A inércia dos governos enfraquecidos pela mentalidade neoliberal - que prega a diminuição da influência do Estado sobre os problemas da sociedade - fez com que o crime tomasse conta. As taxas de criminalidade aumentaram. O dólar baixo permitiu que brasileiros (classes média alta e alta) fizessem uma festa no exterior e no mercado interno, aumentando o consumo. E foi exatamente este que impulsionou o aumento da criminalidade. Se os ricos podem ter, os pobres também possuem o mesmo direito, e com certeza, farão o possível para comprar as coisas que desejam. Isso tudo causado pelo consumismo e pela valorização excessiva do material. Pois uma sociedade é feita de exemplos.

E assim a criminalidade tomou conta. Lembro-me de ouvir os primeiros casos de assaltos a residências nos anos 90. Os primeiros casos de latrocínio. Casos isolados, naquela época. Diferente de hoje, onde estes acontecimentos tornam-se cada vez mais frequentes. E hoje, ele bateu à minha porta. Um episódio aterrorizante e que levarei em minha mente para o resto de minha vida. Vi minha mãe descontrolada, tremendo, emitindo sons (não eram palavras) e sendo ameaçada de morte por um jovem (de no máximo 19 anos), com o nome “Diana” tatuado no braço. Tive que tapar a boca de minha própria mãe. Algo que jamais me esquecerei.


Agora, sendo parte de uma triste e deprimente estatística, possuo uma visão ainda mais crítica sobre os problemas de nosso país. Ódio dos bandidos? Não. Por mais que eu tente, meu lado racional me faz pensar no nome “Diana”. Quem será ela? A mãe de um dos bandidos? Esposa? Quem sabe até mesmo uma filha. Uma mulher que talvez viva na favela, em meio à violência cotidiana, com diversos filhos. Filhos estes que, por falta de oportunidade e influenciados pela sociedade consumista e fútil que os cercam, se entregam à uma vida de violência, em busca de dinheiro e bens materiais. Talvez drogas também. Portanto, ódio não é um sentimento que se deve nutrir nestas horas. Pena também não. Mas devemos sim, olhar para os problemas de maneira crítica. Devemos tentar compreender as causas desta violência que toma conta de nossas ruas. Esta é a única maneira de percebemos que os ingredientes consumismo, bens materiais e dinheiro, não são os únicos formadores de uma sociedade desenvolvida. Eles devem ser um detalhe.

É por isso que espero, como brasileiro, que a distribuição de renda continue. E que melhore. E que o dinheiro não continue a ser o único poder realmente existente em nossa sociedade. Mas ainda há muito pela frente. Da maneira como estamos caminhando, aliás, a chegada do verdadeiro desenvolvimento está bem distante. Porque, por enquanto, só posso dizer uma coisa: desenvolvimento, estamos fazendo errado.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Liberdade de imprensa é...

Reproduzo aqui um texto de autoria de Izaías Almada:

Liberdade de imprensa é chantagear políticos…
Liberdade de imprensa é acusar sem provas…
Liberdade de imprensa é espionar celebridades…
Liberdade de imprensa é defender o cartel da informação…
Liberdade de imprensa é fazer lobby em favor próprio no Congresso Nacional…
Liberdade de imprensa é fazer escutas telefônicas ilegais em Londres
Liberdade de imprensa é inventar escutas telefônicas ilegais no Brasil…
Liberdade de imprensa é extinguir o contraditório…
Liberdade de imprensa é criar fichas falsas…
Liberdade de imprensa é criar factóides para a oposição…
Liberdade de imprensa é a oposição repercutir os factóides…
Liberdade de imprensa é acusar os blogs democratas de “chapa branca”…
Liberdade de imprensa é aceitar e barganhar anúncios do governo…
Liberdade de imprensa é especular hipocritamente com a doença alheia…
Liberdade de imprensa é testar hipóteses…
Liberdade de imprensa é assumir-se como partido político de oposição…
Liberdade de imprensa é denunciar a corrupção dos adversários…
Liberdade de imprensa é fazer vistas grossas à corrupção dos amigos…
Liberdade de imprensa é acusar Chávez, Fidel, Morales e Lula…
Liberdade de imprensa é defender Obama, Berlusconi, Faiçal, FHC…
Liberdade de imprensa é banalizar a violência…
Liberdade de imprensa é disseminar o preconceito e o racismo…
Liberdade de imprensa é vilipendiar, caluniar e fugir para Veneza…
Liberdade de imprensa é inventar bolinhas de papel…
Liberdade de imprensa, no Brasil, é para inglês ver…
Liberdade de imprensa na Inglaterra é para brasileiro aprender…
Liberdade de imprensa é divulgar partes do “relatório” do terrorista norueguês…
Liberdade de imprensa é ocultar o direito de resposta ao MST…
Liberdade de imprensa é manipular a opinião pública…
Liberdade de imprensa só vale para o dono do jornal, do rádio e da televisão…
Liberdade de imprensa é para quem paga mais…
Liberdade de imprensa é apoiar as invasões americanas ao redor do mundo…
Liberdade de imprensa é escamotear os genocídios no Iraque, no Afeganistão…
Liberdade de imprensa é apoiar greve de fome de um único dissidente cubano…
Liberdade de imprensa é jogar sujo contra governos progressistas…
Liberdade de imprensa é acusar sem oferecer o direito de defesa…
Liberdade de imprensa é que nem mãe: só a minha é que presta…
Liberdade de imprensa é a liberdade de se criar novas máfias…
Liberdade de imprensa é dar dicas sigilosas para concorrências públicas…
Liberdade de imprensa, às vezes, se compra com 500 mil dólares…
Liberdade de imprensa é aquela que só vale para os apaniguados…
Liberdade de imprensa é ser arrogante com os pequenos…
Liberdade de imprensa é bajular os grandes…
Liberdade de imprensa é difamar celebridades vivas…
Liberdade de imprensa é enaltecê-las depois de mortas…
A Liberdade de imprensa, tal qual é defendida e praticada nos dias de hoje pelos setores mais conservadores da sociedade brasileira, é o apanágio dos ressentidos e a nova trincheira dos hipócritas.
*Izaías Almada é escritor, dramaturgo, autor – entre outros – do livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência” (Boitempo) e “Venezuela povo e Forças Armadas” (Caros Amigos).

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Steve Jobs: o homem que mudou o mundo?

Após uma longa batalha contra o câncer, o gênio da informática Steve Jobs, fundador da Apple e criador do primeiro computador pessoal produzido em massa ( o Apple II), faleceu em paz, conforme divulgado por sua família. O local não foi revelado, mas provavelmente ele morreu em sua residência, acompanhado da mulher, filhos e mais chegados.

Imediatamente após o anúncio do trágico ocorrido, milhões de pessoas se solidarizaram, especialmente via internet, mandando mensagens de condolências, homenagens e pagando outros tributos à figura de Jobs. Uma comoção tomou conta do mundo todo, gerando uma legião interminável de admiradores, que não hesitaram em nomeá-lo como um homem que mudou o mundo. Mas, até onde essa afirmação é real? Steve Jobs mudou mesmo o mundo? De qual mundo estamos falando?

Dentro da internet e do universo digital no geral, Jobs é admirado por ter mudado a maneira como nos relacionamos com os computadores, por ter "popularizado" a interatividade e por ter promovido a velocidade em um mercado até então dominado pela Microsoft e sua janelinha. Toda uma linha de produtos que mudaram o universo tecnológico, que fizerem dele o herói dos geeks. Mas, todas essas conquistas estão longe de representarem uma "mudança do mundo". Principalmente porque os produtos da Apple são acessíveis a somente uma pequena parcela deste mundo. Então, podemos falar que Steve Jobs mudou o mundo digital, o mundo tecnológico ou o mundo dos geeks. Mas isto está bem longe de ser o mundo real, no qual todos nós vivemos.

Conquistais sociais, no geral, costumam ser menos valorizadas do que conquistas tecnológicas. Pois uma coisa não se pode negar, a elite sabe endeusar seus ídolos muito melhor do que as massas populares. Com certeza, a população do oeste asiático (especialmente Índia e Bangladesh) não ficaria tão comovida pela morte de Muhammad Yunus quanto geeks e consumidores da Apple ao redor do mundo todo ficaram com a morte de Steve Jobs. Talvez porque tenham outros inúmeros problemas para se preocuparem.

Portanto, existe uma tendência exagerada a endeusar Jobs. Ele pode ter sido um dos grandes gênios da informática (como Bill Gates, Linus Torvalds, Tim Berners-Lee, entre tantos outros), mas está longe de ser um herói que mudou o mundo. Ele foi somente mais um dos responsáveis por fazer do homem um ser ainda mais materialista do que já é. De contribuir, ainda que sem querer, com a tendência mundial da busca pelo status através de bens materiais. Foi mais um dos promotores da exclusão social neoliberal e burguesa que defeca todos os dias em cima da cabeça daqueles que não podem adquirir produtos que o façam mais humano ou privilegiado.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Emir Sader tirando as palavras da minha boca.

Reproduzo aqui um texto escrito por Emir Sader e publicado em seu blog na Carta Maior. Ele conseguiu sintetizar tudo o que eu penso sobre o Estado brasileiro. Aliás, tudo o que penso e espero de um Estado. Ele tirou as palavras da minha boca:



Um Estado para governar para todos
por Emir Sader

O Estado sintetiza, de alguma maneira, a sociedade que temos. O político condensa, sintetiza, o conjunto das relações econômicas, sociais e culturais – na visão de Marx.

O Estado brasileiro, antes de 1930, era literalmente o Estado das oligarquias primário-exportadoras: dos setores que produziam para a exportação e dos que comercializavam essa produção e importavam das metrópoles para o consumo das elites. Era um Estado de uma ínfima minoria, governando para o interesse dessa ínfima minoria. A grande maioria da população nem era contemplada pelo Estado, nem se reconhecia nele.

A primeira grande transformação do Estado brasileiro se deu a partir de 1930. O Estado começou a assumir responsabilidades sociais, contemplando a setores populares como cidadãos – sujeitos de direitos -, passou a incentivar a economia voltada para o mercado interno, permitiu o inicio do processo de sindicalização dos trabalhadores, formulou uma ideologia nacional e começou a aparecer como o Estado de todos os brasileiros.

Esse Estado, correlato aos processos de industrialização, de urbanização, de sindicalização, de democratização social e politica, teve um freio radical com o golpe de 1964. A ditadura militar se impôs como governo das elites dominantes contra os setores populares. Além da brutal repressão contra o campo popular e tudo o que tivesse que ver com democracia, impôs o arrocho salarial e a intervenção em todos os sindicatos, promovendo uma lua-de-mel para as grandes empresas nacionais e estrangeiras. Crescia a economia, mas não se distribuía renda, se concentrava a riqueza e se multiplicava a desigualdade e a exclusão social. O Estado tinha se tornado, de novo, um instrumento exclusiva das classes dominantes.

A democratização permitiu a recuperação de muitos dos direitos democráticos abolidos pela ditadura, permitindo uma nova identificação da população com o Estado, por meio da democracia. Mas esta coincidiu com a explosão da crise da dívida – uma divida alimentada criminosamente pela ditadura militar, que endividou o país sem benefícios para a massa da população e a juros flutuantes. Com a elevação brutal da taxa de juros, a economia do país quebrou, foi interrompido o processo de desenvolvimento econômico que, de uma ou outra forma, tinha se estendido desde 1930. Se desmoralizava a democracia, porque não promovia o bem estar da população e postergava a eleição direta do presidente, até que sua desmoralização levou à eleição de algum provindo da ditadura pouco tempo depois do fim desta, como presidente.

Collor, Itamar e FHC representam a era neoliberal no Brasil, em que o Estado foi reduzido às suas mínimas expressões, a economia foi desregulamentada, o mercado interno aberto aos capitais externos, as relações de trabalho foram precarizadas. O Estado tornou-se o Estado das grandes corporações nacionais e internacionais, sob o reino do mercado e da brutal reconcentração de renda que ele produziu.

O Estado voltou a ser desmoralizado nos discursos de Collor, de FHC, nos meios de comunicação, como inútil, negativo, que arrecada impostos tomando dinheiro dos cidadãos, que é ineficaz, burocrático, que prejudica o funcionamento dinâmico da economia. Em contraposição, se fazia a apologia do mercado, a quem foi entregue valioso patrimônio publico sob a forma das privatizações, deixando circular livremente o capital, para dentro e para fora do país, diminuindo ainda mais a presença do Estado nas politicas sociais. O Estado se afirmava, mais ainda do que no passado, como instrumento das elites do país, contra os interesses nacionais e populares.

Nos últimos anos o governo foi recuperando o prestigio do Estado. Os impostos foram sendo devolvidos à cidadania por intermédio das politicas sociais, pela melhoria do atendimento da população, extensão da educação publica, melhoria relativa da saúde publica. O Estado se responsabilizou por enfrentar a crise, impedindo que produzisse aqui – como em muitos lugares – uma recessão profunda e prolongada.

Mas tudo isso foi feito na contramão de um Estado que tinha sido feito para não agir, para deixar que o mercado ocupasse todos os espaços. Um Estado burocratizado, adaptado às irregularidades e corrupções, nada transparente, feito para manter a sociedade e o poder como eles são, incapaz de promover suas transformações democráticas.

Em primeiro lugar, o espírito público, a ideia de que não são funcionamentos do Estado, remunerados pelo Estado, mas são servidores públicos, remunerados com os impostos da cidadania e que se devem a ela, tanto na prestação de serviços, como no respeito às leis e normas.
Em segundo lugar, que ocupam cargos por concursos públicos, a forma mais democrática de preenchimento de cargos. Que devem prestar contas periodicamente à cidadania do cumprimento das funções que lhes são assignadas. Que devem ter plano de cargos e salários e avaliação permanente do seu desempenho.

Em terceiro lugar, deve haver transparência absoluta de quem financia o funcionamento do Estado e a quem o Estado transfere os recursos arrecadados. Hoje a estrutura tributaria é muito injusta, recaindo o essencial sobre os mais pobres, com o Estado transferindo uma parte do que arrecada para o capital financeiro, por meio do pagamento das dividas do Estado. O Orçamento Participativo é um instrumento essencial ao caráter púbico e democrático do Estado. Suas formas de existência tem que ser adequadas ao funcionamento eficiente do aparelho do Estado, mas tem que ser transparentes e ser controladas pela cidadania.

O Estado tem que governar para toda a população, tendo neste critério o filtro fundamental das suas decisões. Para que isso ocorra, a cidadania tem que ter mecanismos de informação – que podem ser via internet – e de discussão e controle da atuação dos governos. Os mecanismos de ratificação dos mandatos são uma das formas desse controle, quer permitem atualizar a legitimidade dos governos como produto da avaliação do seu desempenho.

Para que possa haver uma relação democrática e transparente entre governantes e governados, é preciso democratizar radicalmente os meios de comunicação, para que deixem de expressar um setor apenas – claramente minoritário hoje – da população, para propiciar informação minimamente fidedigna, espaços de debate que contem com opiniões que expressem de forma pluralista o que pensa a cidadania no seu conjunto e não apenas a minoria. Para isso é necessário uma imprensa pública – estatal e não estatal – que não seja financiada pelos grandes capitais privados – como acontece atualmente – e que amarra os interesses dessa mídia com os interesses dos mais ricos e poderosos.

Finamente, é necessário terminar com o analfabetismo e com o analfabetismo funcional – que somam a cerca de um terço da população – para que seja possível a informação e o debate generalizados por toda a população do país.

Consolidar, estender e aprofundar um governo para todos requer um Estado adaptado aos interesses das grandes maiorias do país, que demanda portanto profundas transformações – que podem ser obtidas mediante a convocação de uma Assembleia Constituinte autônoma, como a anunciada por Lula e por Dilma na recente campanha eleitoral.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Os parasitas

O PMDB, sucessor do MDB, partido de oposição ao governo militar e à ARENA, é um partido de história. Ele possui uma história, uma trajetória, e muito bonita, democrática e renovadora (em uma singela ironia com a extinta ARENA). É inegável que o Partido do Movimento Democrático Brasileiro tenha uma importância enorme na formação de nossa política e de nossa história, principalmente, no período de redemocratização. Porém, ao longo dos anos, o PMDB tem se afundado nas próprias divergências, em seu quadro político extremamente inflado e em sua fraqueza ideológica.

A primeira ruptura dentro do PMDB, foi quando FHC, Sérgio Motta, José Serra, Mário Covas, entre outros nomes tradicionalmente tucanos, fundaram o PSDB. Foi o primeiro sinal de que, devido à falta de identidade ideológica, importantes políticos do partido preferiram formar suas próprias legendas, erguendo as bandeiras de seus valores e ideais. Mas esta foi a única ruptura importante. Depois da fundação do PSDB, nenhum outro partido dissidente do PMDB surgiu. O partido continuou enorme, inflado, e ainda sem identidade ideológica.

Ideologicamente, o PMDB é um "partidão" de centro. Mas este centrismo do qual faz parte, é muito mais relacionado ao termo popular "em cima do muro", do que da corrente ideológica de posição moderada, defensora da justiça social dentro do capitalismo. Ao longo dos anos que se seguiram após a volta da democracia, o PMDB tem se mostrado um partido parasitário. Como não possui identidade suficiente para fazer um candidato próprio à presidência da república, prefere apoiar todo e qualquer governo eleito. Para esta missão, o fato de ser o maior partido do Brasil, ajuda. E muito. O PMDB é indispensável para a formação de qualquer base governista forte. Todo e qualquer partido que eleja seu candidato à presidência, necessita do apoio do PMDB, uma vez que este ainda é forte, tanto no congresso, quanto no governo dos estados.

E para que seus "aliados" nunca se esqueçam da importância do partido para a formação de qualquer governo, seus líderes não hesitam em demonstrar sua força através de ameaças, com o objetivo de achacá-los. Exigem a quota de ministérios e pastas que bem entendem ser úteis para si, não se preocupando com a competência ou eficiência do futuro gabinete. É exatamente o que está acontecendo agora, durante a formação do governo Dilma Rousseff. O PMDB pressiona seu aliado, o PT, indica seus ministros e ameaça ruptura se contrariado. Então, pressionada, Dilma cede os ministérios desejados - ou nem sempre - aos parasitas centristas. Nomes normalmente pouco técnicos, contrariando o que desejava a futura presidente para seu gabinete. Porém, há que se ceder às pressões parasitárias.

É uma pena que o PMDB ainda seja tão importante para o país, uma vez que se preocupa tão pouco com ele. Pensa primeiro nos interesses próprios. Sem contar os casos de corrupção e os nomes ilustres como os do Coronel José Sarney e de Orestes Quércia (que por sua vez, não se suportam e não se apoiam). Mas, assim é o PMDB. Uma orgia. Uma Torre de Babel política. Mas que, infelizmente, não mostra sinais de que vá ruir.